terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

"NO LIMITE" Crise faz motoristas ameaçarem greve e até largarem profissão


Nos últimos meses, vários caminhoneiros se viram obrigados parar a atividade

RENAN VALLIM, em Tribuna do Norte 
Com a alta recente nos preços do pedágio e do combustível, quem trabalha no setor de transportes tende a sofrer ainda mais. A situação com aumento nos gastos e queda constante na lucratividade teria chegado ao limite para caminhoneiros da região, que ameaçam organizar uma paralisação mais efetiva para os próximos dias. Alguns motoristas estão até abandonando a profissão em busca de condições melhores.Nos últimos meses, vários caminhoneiros se viram obrigados estacionar o caminhão indefinidamente. Este é o caso de Ricardo Rodrigues, araponguense que por 18 anos seguiu os passos do pai e trabalhou como caminhoneiro. Mas, há cerca de dois meses, precisou largar a profissão para se tornar vendedor. 



“Sempre fui apaixonado por caminhões. Cresci dentro deles. Já fui até proprietário de uma agência de cargas com vários caminhões durante dois anos. Mas cheguei a um ponto que não tinha mais como se sustentar com o transporte. Estava praticamente impossível pagar as despesas do veículo. Por isso, fui forçado a abandonar”, diz.Apesar de sentir saudades do caminhão, ele afirma que não voltará mais à atividade. “Tudo subiu muito. Hoje, de Arapongas para São Paulo, o pedágio sai entre R$ 650 e R$ 1 mil, dependendo do trecho que você pegar. A taxa de descarga, que antes era R$ 500, subiu para R$ 700. Para encher o tanque eu gastava R$ 1,3 mil. Hoje o custo é de mais de R$ 1,6 mil. Fora a manutenção do caminhão. Isso faz com que você se obrigue a dirigir de noite, de madrugada, pegue fretes com lucro menor só para poder pagar as contas. A sua saúde e qualidade de vida acabam ficando em segundo plano. Por isso, vários colegas também abandonaram a profissão”.
A Associação dos Caminhoneiros Autônomos de Arapongas (ACAA) confirma que muitos caminhoneiros estão procurando outras ocupações. Nesta semana, pelo menos três caminhões foram guardados no pátio da associação por ex-caminhoneiros, que não sabem o que farão com os veículos, mas decidiram parar de trabalhar no ramo. “Não está mais compensando. Quem continua é porque tem esperança na melhoria da situação, ou não sabe fazer outra coisa. É difícil. A maioria dos trabalhadores está ‘amarrada’ com o financiamento dos veículos e não pode abandonar o trabalho, pois há o medo de faltar dinheiro e o banco tomar o caminhão”, afirma o presidente da ACAA, Antônio Ferreira, o popular Lebrão.Ele conta ainda que é impossível aumentar o preço do frete. “Com a situação complicada desse jeito, subir o preço do frete seria abrir espaço para a concorrência.  Se você não fizer no preço normal, outros farão no seu lugar. Por isso, o caminhoneiro se vê refém do sistema”.
GREVE - “Estamos trabalhando quase que no vermelho porque, além de todos os custos terem aumentado, está havendo uma crise econômica. A indústria não produz mais como antes e as exportações estão em baixa. Ou seja, falta trabalho”, desabafa Gutaçara Campos, caminhoneiro apucaranense há 25 anos. “Abandonar não dá. É isso que eu gosto de fazer, é isso que eu sei fazer. Mesmo pagando atrasado as parcelas do caminhão, não abandonarei”, diz.Adriano de Souza, caminhoneiro há nove anos, é firme. “Temos que nos mexer, mostrar a nossa indignação e a situação complicada que estamos passando. O governo não olha para nós. Vamos ver se, com um protesto, dão importância ao nosso trabalho”, ressalta.Os caminhoneiros haviam marcado um protesto na BR-369, próximo ao Posto Catarina, entre Apucarana e Cambira, para a tarde deste sábado (14), mas a mobilização foi adiada para a próxima semana.

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