segunda-feira, 16 de outubro de 2017

STF julga proibição de aditivos nos cigarros nessa quinta-feira (19/10)


Especialista condena utilização de substâncias e dá recomendações a quem quer parar de fumar

Deixar de fumar já não é fácil, e um vilão torna tudo ainda mais difícil: o uso de aditivos na produção do cigarro. Proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), elementos como amônia, mentol e açúcar aumentam as chances de dependência e do desenvolvimento de doenças como o câncer. Essas e outras substâncias continuam a ser utilizadas pela indústria do tabaco no Brasil, amparada por uma liminar concedida à Confederação Nacional da Indústria (CNI) pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A questão (Adin 4.784) está pautada para ser julgada em definitivo nessa quinta-feira (19/10) pelo Plenário do STF.


Especialistas em saúde demonstram preocupação e alertam a população sobre os riscos. Ex-coordenadora do Programa Municipal de Combate ao Fumo do Rio e atual presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Tabaco (Abead), a psicóloga Sabrina Presman trata pacientes dependentes do fumo na clínica Espaço Clif, em Botafogo, Zona Sul do Rio. Ela afirma que os aditivos são grandes responsáveis pela iniciação de jovens na dependência de cigarro e podem diminuir as chances de quem quer parar de fumar.

"Os aditivos deixam o cigarro com um sabor mais palatável e fazem com que crianças e adolescentes, especialmente os que ainda não experimentaram o fumo, não sintam tanta dificuldade na primeira tragada. Um verdadeiro convite à dependência", explica Sabrina Presman. "Além disso, substâncias como a amônia potencializam os efeitos da nicotina, dificultando ainda mais as chances de quem tenta se livrar do fumo".

Entre as principais substâncias que a Anvisa condena, o açúcar, a amônia e o mentol são apenas três exemplos de riscos à saúde a ao aumento da dependência. Cada um cumpre uma função cujo único objetivo, apontam os especialistas, é conquistar mais fumantes, principalmente entre o público mais jovem.

Veja, a seguir, os danos causados pelas principais substâncias, e dicas da psicóloga sobre o que fazer para quem quer parar de fumar:

Açúcar - Melhora o sabor e a sensação de irritação causada pela fumaça do cigarro, reduzindo reações como a tosse. Também ajuda a potencializar a capacidade do cigarro de causar dependência. Por outro lado, sua combustão no cigarro resulta na produção de outras substâncias altamente tóxicas e consideradas cancerígenas.

Amônia – Potencializa a ação da nicotina, interferindo na velocidade de sua absorção, tornando-a mais potente.

Mentol – Atua como anestésico local, permitindo inalações mais profundas da fumaça do tabaco.

Flavorizantes em geral – Aromas de canela e outros sabores agradáveis tornam a sensação da primeira tragada mais amigável, fazendo com que crianças e adolescentes de "primeira viagem" não sintam tanto desconforto. Pesquisas indicam que a maioria das pessoas se torna dependente de cigarro antes dos 19 anos.

Números no Brasil
Desde quando foi concedida liminar à CNI, em 2013, permitindo a utilização de aditivos nos produtos de tabaco, o número de marcas de cigarro com sabor no Brasil aumentou em pelo menos 1.900%, segundo relatório da ONG ACT Proteção à Saúde.

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) a ser julgada pelo Supremo foi ajuizada pela CNI em novembro de 2012, contestando a resolução da Anvisa, daquele mesmo ano. No ano seguinte, a ministra do STF Rosa Weber atendeu, em caráter liminar, o pedido, liberando o uso de aditivos, até que a questão fosse decidida pelo Plenário.

Uma pesquisa publicada pelo NCBI, órgão da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, realizada por especialistas da Fiocruz e do Instituto de Efectividad Clínica y Sanitaria de Buenos Aires, mostra que os malefícios do tabagismo levam ao menos 428 pessoas a óbito por dia no Brasil.

Na economia, o saldo também é negativo. O país tem uma despesa anual de R$ 56,9 bilhões com os males causados pelo fumo. Ao todo, R$ 39,4 bilhões são gastos com assistência médica e R$ 17,5 bilhões com custos indiretos ligados à perda de produtividade, devido a incapacitação de trabalhadores ou morte prematura. Por outro lado, a arrecadação de impostos com a venda de cigarros no país é de R$ 12,9 bilhões. O prejuízo é de R$ 44 bilhões.

"Os dados são alarmantes e incontestáveis. Esperamos que os juízes do STF levem em conta as inúmeras evidências de que não se pode voltar atrás numa legislação que mostrava avanços. Temos que progredir e acompanhar as medidas que já são adotadas em outros países, inclusive nos Estados Unidos, que inibem o uso dessas substâncias", finaliza Sabrina.

Estatísticas
Em 25 anos, o percentual de pessoas que fumam no Brasil caiu de 29% para 12%. Mas o país ainda é o 8º no ranking mundial de fumantes. Ao todo, quase 20 milhões de brasileiros são viciados em nicotina, sendo 7,1 milhões de mulheres e 11,1 milhões de homens. Os dados são de pesquisa publicada na revista científica The Lancet (abril/2017).

Cerca de 90% dos fumantes se tornam dependentes até os 19 anos. Com a utilização de aditivos como amônia e açúcar, entre outros, as chances de dependência aumentam, mesmo com o consumo de menos cigarros, em comparação com aqueles que não contém as substâncias.
Segue link para a pesquisa citada:http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26200375

Sete passos para deixar o cigarro
Largar o cigarro é, com certeza, um grande desafio. O primeiro passo, diz Sabrina Presman, é reconhecer a dependência. O segundo é querer parar de fumar. A partir daí, há alguns caminhos, desde a tentativa individual de deixar o hábito até o tratamento multidisciplinar, com especialistas.
No caso de quem quer tentar largar o vício por conta própria, a psicóloga aponta os sete passos:

1 – Marcar uma data
Marcar o dia certo para largar o cigarro é importante. Com isso, o fumante pode se preparar, avisar aos amigos, à família e ao mundo que está se despedindo do hábito.

2 – Jogar fora os cigarros
É preciso se livrar de todos os cigarros guardados em casa, no carro, no trabalho e onde quer que seja.

3 – Ter paciência
Vontade é coisa que dá e passa. Aquela vontade quase incontrolável de fumar dura de três a cinco minutos. Manter a calma e esperar um pouco vale a pena.

4 – Encontrar substitutos
Identificar as ações que levam a acender um cigarro, como ler jornal, tomar café ou falar ao telefone. Nesses casos, não se trata de mudar esses hábitos, mas de buscar outras formas de distração. Algumas dicas são mastigar gengibre, cravo ou mesmo pequenos pedaços de cenoura em forma de palitinhos.

5 – Pare em até sete dias
Interromper de vez ou aos poucos depende de cada um. Mas se a decisão for diminuir gradativamente o número de cigarros, é importante cortar definitivamente o hábito de fumar em até sete dias.

6 – Não conseguiu? Tente de novo
Se acontecer uma recaída, é importante não desistir, nem se sentir envergonhado. Sempre vale a pena tentar novamente.

7 – Praticar atividade
Se ocupar com ações prazerosas, como passeios, exercícios físicos ou um bom filme ajuda bastante quem quer largar o fumo.

Depois de parar
Após conseguir largar de vez o cigarro, é muito importante evitar o primeiro trago. Sabrina Presmam explica que os receptores cerebrais para a nicotina continuam lá, no mesmo lugar, esperando a pessoa voltar a fumar.

"Não existe essa história de fumar só um cigarrinho depois de parar de vez. Isso já seria o suficiente para o vício voltar, igualzinho como era antes", garante Sabrina.

Imersão em clínica dobra as chances de sucesso
No caso do tratamento especializado para largar o fumo, a imersão do paciente em uma clínica, por si só, já dobra as chances de sucesso. Pesquisa da Mayo Clinic mostra que 57% dos que fazem essa opção conseguem deixar o cigarro em definitivo, contra 27% dos que passam pelo tratamento convencional, feito apenas em ambulatório.

Sabrina Presman compõe uma equipe multidisciplinar na clínica Espaço Clif, no Rio de Janeiro, onde trabalha em conjunto com a psiquiatra Analice Gigliotti e outros profissionais focados em fornecer todo o suporte necessário a quem quer parar de fumar.

"A internação auxilia na reprogramação mental de quem quer superar a dependência em cigarro. Orientamos sobre as diversas técnicas para os pacientes se manterem longe do fumo, sendo que cada um tem uma prescrição conforme a sua realidade. Junto à medicação, mais o trabalho do nutricionista, evita-se com mais chances as recaídas", diz Sabrina Presman.



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