terça-feira, 23 de abril de 2019

Moradores de Açailândia são vítimas de resíduo inflamável de usina, no Maranhão

O pó fino é depositado a céu aberto e se dissipa facilmente, tornando-se invisível ao olho nu. A última vítima, uma criança de nove anos, teve os pés corroídos até os ossos pelo resíduo.

Diversas pessoas já foram vitimadas pelo resíduo de uma usina de minério em Açailândia, no Maranhão. Apelidada de “munha”, a escória é depositada a céu aberto, torna-se invisível ao olho nu e alcança temperatura capaz de causar queimaduras de terceiro grau.As informações são da matéria da jornalista investigativa Thais Lazzeri, da Repórter Brasil.

Segundo a matéria, o resíduo é fruto da produção de ferro gusa da empresa Gusa Nordeste S.A., cuja principal fornecedora de minério é a Vale. Montanhas de “munha” – algumas de até dois metros de altura – são depositadas a céu aberto em uma área sem cercas ou muros, próxima a casas de moradores. Com vento e chuva, o pó fino se dissipa com facilidade e decanta em outras terras, tornando-se invisíveis ao olho nu.

A vítima mais recente foi uma criança de nove anos. Alan caiu do cavalo em uma área de munha e teve seus pés corroídos até os ossos pelo resíduo. Permaneceu internado e sedado por 13 dias e levou seis meses para conseguir voltar a ficar em pé. Somente após quase um ano as feridas se cicatrizaram.

A primeira vítima da “munha” foi outra criança, de sete anos, em 1999. O relato diz que ela “afundou” no resíduo e não sobreviveu. Na sentença da empresa, em 2002, o juiz afirma que a empresa teria assumido o risco de provocar um acidente.

A reportagem relata que encontrou quatro famílias vitimadas pelo resíduo, mas que há muito mais vítimas nos últimos vinte anos.

Para continuar seu funcionamento apesar da condenação, a Gusa teria contado com a conivência do governo do Maranhão, conforme afirma um relatório feito por servidores do estado.

A vistoria teria sido composta por membros da Secretaria do Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema), da Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH, em inglês) e por um morador afetado. Em um dos vídeos gravados, são mostrados gravetos de madeira que pegam fogo apenas sendo jogados na “munha”.

Ainda segundo a repórter, a empresa também teria sido favorecida por uma brecha na lei complementar federal nº 140/2011, que estabelece que se uma secretaria não responder ao pedido de licenciamento ambiental, a licença é prorrogada. Esta prorrogação estaria beneficiando a Gusa desde 2012. 

Procuradas, a Gusa e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente não responderam aos questionamentos da Repórter Brasil.

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